No mesmo dia em que anunciou um plano de investimentos de R$ 24,5 bilhões para 2010, o presidente da Vale, Roger Agnelli, ouviu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a mineradora não deve “ficar sentada” e poderia investir mais na Colômbia.
Na companhia do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, em um seminário organizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lula comentou que a Vale prevê investimentos da ordem de US$ 380 milhões na Colômbia. Ainda assim, disse Lula, a empresa teria condições de “fazer um pouco mais”.
O presidente prosseguiu: “Até o Roger sabe que a Vale do Rio Doce (sic) não pode achar que é grande e ficar sentada numa cadeira em sua sede se não for para a rua vender. É preciso disputar cada milímetro”.
A fala do presidente foi feita apenas algumas horas antes de ele se reunir a portas fechadas com Agnelli, no escritório da Presidência da República em São Paulo. Na saída do encontro, Agnelli empenhou-se em demonstrar que as tensões entre a Vale e o Planalto estão sob controle.
“Procurei ficar quieto nesse processo todo até as coisas entrarem pelo menos no racional”, disse o executivo, acrescentando que sempre teve uma boa relação com Lula e negando que corresse o risco de ser afastado do comando da empresa. “Eu, sinceramente, nunca tive nenhuma ciência de que ninguém quisesse me tirar. E nem sonhado eu tenho em termos de sair”, disse.
Ele descreveu o anúncio como o “maior plano de investimentos de uma empresa privada na história do País”. “A Vale, como empresa, sempre contou com o apoio do presidente”, continuou Agnelli, sem disfarçar o incômodo com o noticiário sobre as pressões do Planalto para que a Vale se lance no mercado de siderurgia. “Nós já estamos em siderurgia. Hoje somos os maiores investidores em siderurgia no País, com projetos como estes que estou mostrando aqui, que estamos apoiando”, continuou.
Ao apresentar o plano de investimentos, ele afirmou que a Vale apoia projetos siderúrgicos no Pará, Ceará, Espírito Santo e Rio de Janeiro. “Estamos falando nesses projetinhos, estamos falando em crescer a produção brasileira em 45%. Isso é um Reino Unido”.
Agnelli minimizou as cobranças de Lula. “Acho que a expectativa do presidente, o fato de o presidente pedir, é como eu faço na minha própria empresa. Eu cobro meus gerentes e diretores todos os dias”, disse o executivo.
“O presidente tá fazendo o papel dele”, acrescentou. Sobre os comentários do empresário Eike Batista sobre a companhia, ele disse que prefere prestar atenção nos comentários de acionistas de sua empresa.
O plano anunciado ontem por Agnelli corresponde a R$ 24,5 bilhões. Os detalhes do projeto foram apresentados na reunião a Lula e aos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil). De acordo com Agnelli, o projeto prevê a destinação de 51% dos investimentos à área de minério de ferro e logística. A ideia, acrescentou, é aumentar a produção de minério de ferro para 450 milhões de toneladas até 2014, contra 300 milhões este ano. A grande maioria dos recursos, 80%, irá para projetos na América Latina e África. Com isso, o grupo espera criar 81.400 empregos diretos em 2010 ou 415 mil postos indiretos.
Companhia vai aumentar o quadro de funcionários
O presidente da Vale, Roger Agnelli, estimou que o quadro de funcionários diretos da companhia vai crescer 12% em 2010 em comparação com 2009, somando 81,4 mil pessoas. Segundo Agnelli, 51% do orçamento total será aplicado em minério de ferro (30%) e logística (21%), 31% em metais não ferrosos, 7% em carvão, 6% em energia, 3% em siderurgia e 2% em outros.
Por categorias, 23% do aporte será voltado para manutenção,10% para pesquisa e desenvolvimentos e 67% na implementação de novos projetos.
De acordo com Agnelli, os estados que vão concentrar os investimentos no Brasil são Pará (R$ 6,8 bilhões), Minas Gerais (R$ 2,9 bilhões), Maranhão (R$ 1,9 bilhão) e Espírito Santo (R$ 1,7 bilhão).
Cerca de 80% do investimento total da Vale no ano que vem ocorrerá na América do Sul e na África. (AE)
terça-feira, 20 de outubro de 2009
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