Em virtude das muitas indagações que me chegaram, por causa dos e-mails enviados pela direção da Amazônia TV, me sinto na obrigação de esclarecer o que de fato ocorreu. Os milhares de telespectadores merecem uma satisfação, já que o programa era inteiramente voltado para os interesses da comunidade.
A mensagem da emissora, que foi para os sites e blogs dizia o seguinte: “A Amazônia TV, afiliada ao SBT, comunica aos telespectadores que, por razões contratuais, o programa "Boa Noite Cidade" deixa de ser exibido a partir de hoje”. O comunicado foi assinado por Mariana Pacheco, sócia proprietária, mas nessa emissora, quem dá a última palavra é a deputada Bel Mesquita, prima de Mariana.
Como o termo “razões contratuais” é muito vago e depende da imaginação de cada um para se formar uma idéia do que realmente aconteceu para que o telejornal fosse tirado do ar e como o programa - em virtude do seu alcance - deixou de ser propriedade de Marcel Nogueira ou de quem quer que seja para se tornar um veículo das inquietações da população, é mais do que justo uma satisfação da minha parte, já que o termo “razões contratuais” poderia suscitar a idéia de que houve incompetência em levar informações jornalísticas ao público, ou mesmo desacerto nas questões financeiras.
Como disse, em respeito ao telespectador que nos assistiu durante seis meses e que deu ao programa a maior audiência na grade da emissora faço um resumo do que aconteceu, até porque depois de doze anos de jornalismo, tenho a obrigação de deixar tudo às claras.
Quando começou
O programa começou em 06 de fevereiro depois de uma conversa com a deputada Bel Mesquita no mês anterior, na qual ficou acertado o seu formato. Devo dizer que em nenhum momento houve interferência da deputada sobre a linha editorial do jornal, de modo que nós (eu e meus parceiros de projeto, Willian Bayerl e Genésio Silva) ficamos a vontade para trabalhar um jornal que interagisse com a comunidade. Desde o início já se sabia que inicialmente o programa seria deficitário, em virtude dos custos de produção, mas que após alguns meses a tendência seria algum retorno financeiro. Na conversa que eu tive com a deputada sobre o inicio das atividades ficou estabelecido que nos primeiros meses, até o programa se solidificar, a Amazônia TV abriria do aluguel do horário. Deve-se dizer que essa prática é comum nos contratos de locação de horário de televisão.
Imediatamente o jornal caiu no gosto popular e por diversas razões. Primeiro não havia uma concorrência significativa por parte das outras emissoras no horário das 18:50h; a lina editorial, livre de atrelamentos políticos também foi determinante para o sucesso e aceitação popular.
Depois de quase três meses, quando o telejornal dava os primeiros sinais que poderia ser viável economicamente, inclusive com a exibição de alguns VTs da prefeitura, Willian Bayerl se desligou do projeto para trabalhar no marketing do clube profissional da cidade. Com a sua saída, a parte comercial ficou a cargo de Genésio e eu.
Pressão econômica
No início de julho, pela primeira vez Genésio, que também respondia pela parte comercial da Amazônia TV falou da sua preocupação com relação a linha editorial do jornal. Para ele, se nós continuássemos “batendo” na prefeitura, haveria pressão de anunciantes. Argumentei que não era nada predeterminado, “parte da nossa pauta é determinada pela população que liga todos os dias, a partir daí fazemos uma triagem e os casos mais importantes viram matéria”, disse.
No primeiro momento não entendi as palavras de Genésio; achava que ele se referia a publicidade da prefeitura que estava sendo veiculada no telejornal, algo em torno de R$ 2, 3 mil por mês. Mais experiente na área comercial, Genésio alertava-me para a mídia que era veiculada na grade do SBT, não só da prefeitura, mas também de empresas que forneciam bens e serviços para o Poder Público.
Por conta disso, no início de agosto, Genésio, que é funcionário do SBT se reuniu comigo e disse que a situação estava insustentável e que precisava sair. Como funcionário do SBT ele achava que a linha editorial independente e com algumas críticas à prefeitura poderia prejudicar os interesses da emissora.
Em Concordei com Genésio e fiquei de comprar a parte dele no programa. Antes, porém, fui conversar com Mariana Pacheco, afinal, haveria um investimento de tempo e as dívidas do programa seriam assumidas por mim, de modo que era preciso uma garantia de pelo menos seis meses de continuidade, caso contrário haveria prejuízos para mim e para ele, Genésio. Na reunião, Mariana concordou com um contrato de seis meses e foi discutido o valor do aluguel do horário, que seria de R$ 3 mil por mês. Fiz questão de avisar que inicialmente seria difícil arcar com o aluguel do horário, em virtude dos custos, mas os seis meses de contrato dariam para compensar as dificuldades dos primeiros meses. Na reunião também foi debatida a questão da prefeitura. Naquela altura já se sabia da pressão que havia sobre a emissora.
O irônico da situação era que durante o governo Darci, o SBT nunca tinha veiculado nada de publicidade da prefeitura; agora, graças ao “Boa Noite Cidade”, a Assessoria de Comunicação da prefeitura mandava veicular alguns VTs na emissora.
Manifestações nos bairros
Enquanto nos bairros a população reclamava da falta de água nas torneiras, de que as caminhões-pipas eram insuficientes para atender a demanda de água da periferia, da falta de energia elétrica, da poeira excessiva, do lixo acumulado nas ruas, nas rodas dos profissionais de comunicação já se falava que a Assessoria de Comunicação da prefeitura iria exigir a saída do programa do ar, porque ele estava “queimando” a administração Darci Lermen. Os comentários diziam inclusive que nesse período Mariana Pacheco se reunira com Alexandre da Hora, assessor de comunicação da prefeitura e a pauta teria sido essa..
No início da segunda quinzena de agosto, pouco mais de 15 dias da reunião que definira que o programa teria no mínimo seis meses de duração, fui chamado para um novo encontro com Mariana. Sem meias palavras ela disse que o programa não era interessante para a emissora e muito menos para a deputada Bel Mesquita (naquela altura já se falava de uma possível dobradinha de Milton da EEPP e Bel nas eleições de 2010). O programa iria sair do ar. Entre as alegações estava de que havia erros na edição do programa. Como eu tinha um novo projeto de um programa esportivo bem encaminhado, inclusive com patrocinadores coloquei na mesa, o que a deixou bastante animada. Naquela altura, um programa de esportes, que não criticasse a prefeitura seria mão na roda.
Ficamos de voltar a conversar na segunda-feira, 24 de agosto. Na reunião, além de Mariana e eu, também esteve presente Luís Cláudio, que trabalhava na produção do ‘Boa Noite Cidade’. Ficou decidido que o “Boa Noite Cidade” ficaria no ar até o dia 15 de setembro por causa dos compromissos com os anunciantes. Depois disso, estrearia o programa de esportes, no mesmo horário do telejornal.
A pesar de não ter ficado satisfeito, porque a confiança havia sido quebrada e que a emissora havia entregado o telejornal de bandeja, em troca de umas míseras veículações de publicidade resolvi ficar para preservar a e qui pe que iria ficar desempregada, caso eu abandonasse o barco.
O final
Um ou dois dias depois da reunião houve um episódio que foi determinante. Genésio Júnior estava em minha casa, quando Mariana ligou no celular dele e pediu para falar comigo. Usando de ironia ela agradecia por eu ter colocado a deputada Bel no evento da Conferencia de educação. Como a deputada não apareceu no jornal percebi a carga de ironia. Era a gota d'água. Primeiro quebrara-se a confiança, agora o respeito saía pela porta dos fundos. Só restava pedir o boné, mas nem foi preciso. Um novo evento poria fim a vida do “Boa Noite Cidade”. A manifestação incisiva dos moradores dos bairros Novo Horizonte e Betânia, ateando fogo em pneus e troncos de árvores, revelando o desagrado com o descaso da administração pública precipitou as coisas. Antes da publicação da matéria, que hipoteticamente traria um desgaste à administração do prefeito Darci Lermen e poderia por em risco os anúncios publicitários, um telefonema de Mariana avisou que não haveria mais programação local, pelo menos sob a minha direção.
Os muitos anos exercendo a função de jornalista, formado pela Universidade Federal do Pará me deram clareza para entender que os interesses econômicos costumam falar bem mais alto do que a vontade de se fazer jornalismo de verdade, entretanto, o que me pareceu desnecessário foi a dissimulação e a forma desrespeitosa que a emissora me tratou, afinal bastaria dizer a verdade, que as críticas do jornal à prefeitura estavam sendo prejudiciais aos seus interesses e eu sairia. Culpar a qualidade de edição ou dizer para os outros que eu tratei mal a direção da emissora ou divulgar nos blogs e nos sites “razões contratuais” é cômodo e não favorece a verdade.
(Esta materia foi publicada na Edição nº 382 do Jornal Hoje de 02 a 08.09.2009).
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3 comentários:
Com este esclarecimento do Marcel Nogueira, já está mais do que evidente de que o número de pessoas que estão saindo da companhia da deputada estadual Bel Mesquita (PMDB), e que participaram da campanha de 2008, é muito maior do que se imagina. O estrago já foi consumado.
O PMBB E O PT estão juntos isto é fato, emtão o que sera do povo de parauapebas tem que ser formado imediatamente a 3ª e a 4ª via ou estaremos condenados a mais 4 anos de desgoverno e o Marcel é um brilhante cerebro politico e tambem ja chega desses oportunistas do PT e do PMDB
Viva o MARCEL, MARCEL pra deputado, pra senador, MARCEL pra prefeito em 2012. Viva, Viva, Viva, Viva, Viva, Viva.
Marcel, como disse o Obama, VOCÊ É O CARA. parabéns.
A sua ética, e seu profissionalismo, a sua competência e acima de tudo o ser humano maravilhoso que você é, não precisava nem desta explicação que você deu.
CAIADO TRABALHO.
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