segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Desencantado, Almir pede desfiliação do PSDB

Almir Gabriel não quis comentar quais serão seus rumos agora

O dia de festa dos tucanos terminou com o gosto amargo da ressaca. De Bertioga, onde se autoexilou desde a derrota tucana para os petistas em 2006, o ex-governador Almir Gabriel anunciou com exclusividade para o DIÁRIO sua desfiliação do PSDB, partido que ajudou a fundar há 21 anos.

Num comunicado, ditado por telefone, Almir Gabriel, explica que tomou a decisão “em razão dos atuais desvios dos princípios políticos e éticos que alicerçavam” o PSDB do Pará. Também lamentou a escolha de Simão Jatene como pré-candidato ao governo, segundo ele, “fundada na tola e odiosa discriminação aos idosos”. Aos 77 anos, Gabriel afirmou na última entrevista que concedeu que estava pronto para governar mais uma vez o Pará. “Estou feliz da vida e nenhuma junta dói”, brincou, em reportagem publicada neste jornal 20 dias antes do anúncio do acordo entre Mário Couto e Jatene que garantiu ao último a pré-candidatura tucana ao governo.

A saída de Almir Gabriel do PSDB representa o fim de uma era dentro do partido e é o saldo de uma queda-de-braço com o ex-amigo e pupilo Simão Jatene. Em 2002, Almir com a teimosia com que ficou conhecido, enfrentou aliados e tucanos de todas as plumagens para fazer do então secretário de Produção, Simão Jatene, o governador do Pará. Numa eleição disputadíssima com a candidata petista Maria do Carmo, Jatene se elegeu, mas quatro anos depois, não concorreu à reeleição, embora pesquisas encomendadas pelo PSDB apontassem alto índice de aprovação do governo. Gabriel foi o candidato e acabou derrotado por Ana Júlia Carepa. Mudou-se para Bertioga e só voltou ao noticiário político no início deste ano, lutando para fazer de Mário Couto o candidato ao governo contra Simão Jatene, de quem o ex-governador se tornou desafeto. Almir Gabriel culpava o ex-pupilo pela derrota em 2006 a quem acusava de ter feito “corpo mole” durante a campanha.

A escolha de Jatene como o candidato não teria deixado a ele outra opção senão deixar o partido. Um dos fundadores do PSDB nacional, o médico Almir Gabriel foi prefeito de Belém, senador da República e candidato à vice-presidência na chapa de Mário Covas em 1989. Governou o Pará por dois mandatos entre 1994 e 2002.

O presidente do PSDB do Pará, senador Fernando Flexa Ribeiro, admitiu que Gabriel já acenava com a decisão de deixar o partido, mas afirmou que ainda havia esperanças de demovê-lo da ideia, tarefa que foi dividida entre as lideranças paraenses e nacionais do PSDB. “O que nos surpreende é o fato de ele ter antecipado a decisão”, afirmou Flexa Ribeiro, dizendo não ver razões para o ex-governador deixar a legenda, já que todos só seguiram as lições que aprenderam com ele. “Sempre seguimos e vamos continuar seguindo a orientação que ele deu a todos nós”, completou o senador, para quem Almir foi e será sempre presidente de honra da legenda. “Só tenho a lamentar. Ele não nos deu a possibilidade de continuar as conversas que vínhamos tendo”.

O líder do PSDB na Assembleia, deputado José Megale, disse lamentar a saída, mas afirmou que Almir estava ausente da vida no partido. “(Ele) Já tinha se despedido da vida partidária em outros momentos. Só lamento. Ele era uma pessoa emblemática”, disse Megale, para quem “a vida continua”.

O senador Mário Couto não foi encontrado para falar do assunto.

O ex-governador Simão Jatene informou, por meio da assessoria de imprensa, que queria primeiro ver o comunicado de Almir para depois comentar. Disse também que ontem à noite ainda vivia as alegrias das manifestações de apoio recebidas pela manhã.

COMUNICADO
Devolvo o título de presidente de honra do PSDB do Pará, partido que ajudei a fundar, e do qual me desfilio, em razão dos atuais desvios dos princípios políticos e éticos que o alicerçavam.

Lamento a decisão partidária, supostamente fundada na tola e odiosa discriminação aos idosos.

Pressinto e lamento, principalmente, a rendição ao atual representante exibicionista do Bradesco na Companhia Vale do Rio Amargo, somada ao governo egocêntrico de São Paulo, “territorializando” a recolonização da gestão pública do Pará, dividido e agachado, no momento especialmente favorável para derrotar o petismo obeso e obtuso que retensamente governa o Estado, hoje. Estou certo que novos líderes, junto com o povo paraense, darão as respostas e lições adequadas pelo voto soberano livre a altivo de sua maioria.

Almir Gabriel Bertioga, 14 de dezembro de 2009.

FUNDADOR
Almir Gabriel ajudou a fundar o PSDB no Pará há 21 anos e era presidente de honra do partido, pelo qual se elegeu prefeito de Belém, senador, foi duas vezes governador do Pará e candidato à vice-presidência na chapa de Mário Covas em 1989.

>> Enquanto isso, tucanos fizeram festa para Simão Jatene na AL

Os tucanos fizeram do domingo um dia de festa para apresentar a pré-candidatura de Simão Jatene ao governo do Estado. Foram quase cinco horas de discursos e aplausos num auditório lotado e abafado, na Assembleia Legislativa do Estado. Dois assuntos dominaram as falas: a unidade do partido - após quase dez meses de intensa disputa interna pelo posto de candidato - e as críticas severas ao governo de Ana Júlia Carepa.

Mário Couto pediu desculpas pela angústia causada aos membros do partido ao disputar a vaga que, desde a derrota tucana em 2006, parecia cativa de Jatene. “Se não tivesse feito o que fiz, não estaríamos tão assanhados como agora”, disse.

A quem perguntava se ele iria mesmo vestir a camisa de Jatene durante a disputa eleitoral, Mário Couto respondia no seu jeito peculiar. “Não seria burro, ou melhor, jumento de não trabalhar pelo desenvolvimento do Pará”.

Dos tucanos com mandato, Couto foi o primeiro a falar em Almir Gabriel, a grande ausência no evento, que reuniu mais de 30 prefeitos (12 do PSDB e demais de outros partidos), 100 vereadores, oito dos dez deputados estaduais, três deputados federais, além do senador Fernando Flexa Ribeiro - presidente do partido - e dos chamados históricos do PSDB, como os ex-secretários de Cultura, Paulo Chaves, e de Obras, Paulo Elcídio, anunciado como dono da ficha 001 do PSDB do Pará.

Couto começou agradecendo a Almir, a quem citou outras cinco vezes, sempre lembrando obras e do início da construção do partido no Pará. Terminou com a mão direita levantada num juramento de “ir para a campanha com emoção e vontade de ganhar”.

Último a falar, Jatene fez uma longa lista de agradecimentos. Admitiu que a disputa interna “foi um processo novo no PSDB”. Contou que abdicou da candidatura em 2006 mesmo estando com 80% de aprovação por “uma questão de princípio”. Sem citar Almir Gabriel e sua ida para São Paulo após o resultado das eleições que deram vitória à Ana Júlia Carepa, o pré-candidato tucano admitiu que nessa época o partido “sentiu uma sensação de orfandade”. Teria sido nesse momento que ele, junto com os deputados estaduais, assumiu a missão de preparar a legenda para as eleições de 2010. “Nada muda meu sentimento de carinho e respeito pelo Almir Gabriel”.

Jatene disse que, diferente do que querem os petistas, que prometem comparar os 12 anos de governos tucanos no Pará com os quatro do governo do PT, vai querer comparar seus quatro anos com os quatro de Ana Júlia. “Será tração 4x4. Eles (o atual governo) atolaram o Pará. Nós vamos tirar do atoleiro”, disse, ressaltando obras tucanas em áreas como saúde, que deve ser uma das mais visadas durante a próxima campanha.

O próximo passo dos tucanos será buscar alianças com outras legendas, às quais devem oferecer a segunda vaga ao Senado (a primeira ficará com Flexa), e a vice-governadoria. O presidente do PSDB disse apenas que as “conversas deverão ser conduzidas sem aflição”. (Diário do Pará)

Nenhum comentário: