quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Brasil pós Lula

O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do instituto Vox Populi, conta que, numa pesquisa de opinião realizada em 2006, detectou um grupo significativo de eleitores que nunca votaram em Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da República, mas que acreditavam piamente ter marcado, em algum momento de suas vidas, o nome de Lula na cédula eleitoral.

Não é para menos. Já ocorreram cinco eleições presidenciais diretas desde que o Brasil saiu da ditadura militar. O ex-metalúrgico, ex-retirante do Nordeste e ex-líder sindical foi candidato em todas elas. Contando as três vezes em que Lula disputou o segundo turno – em 1989, em 2002 e em 2006 – o eleitor teve oito oportunidades de marcar seu nome.

“Especialmente depois que sua popularidade deu uma empinada, em 2008, para o patamar de 80% de aprovação, é natural que haja pessoas que não acreditem nunca ter tido simpatia por ele”, explica Coimbra.

“O mais marcante disso tudo é que a participação de Lula por 20 anos nas disputas eleitorais criou no país algo que os sistemas partidários anteriores nunca conseguiram: uma identidade cultural brasileira na política. Não somos divididos entre conservadores e trabalhistas, como na Inglaterra, nem entre democratas e republicanos, como nos EUA. Agora o Brasil é dividido entre lulistas e antilulistas, com amplo predomínio, no momento, dos lulistas”, aponta o presidente do Vox Populi.

Nestes 20 anos, Lula foi o centro em torno do qual gravitaram grandes momentos da história. Pode-se dizer que o Plano Real só deu certo porque os agentes econômicos aceitaram apertar o cinto e evitar uma debacle que beneficiaria a eleição do Lula para o Palácio do Planalto. Ou que o temor da opção Lula ajudou a afastar teorias golpistas durante o impeachment de Fernando Collor de Mello, assim como permitiu que Itamar Franco obtivesse praticamente um governo de união nacional.

Entre os sociólogos, até mesmo aqueles que não acreditam que Lula conseguirá eleger seu sucessor em 2010 – a primeira eleição em que seu nome não estará nas cédulas – como o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, afirmam que a sua presença nesses anos todos foi decisiva para a política no Brasil.

“Acho que Lula sai do governo com a marca de um Getúlio Vargas ou de um Juscelino Kubtischek. Talvez como o maior presidente da história. Se quisesse, ele poderia até ter obtido o terceiro mandato. Não o fez porque não quis, em respeito à democracia. Mas não creio que ele terá influência nas próximas eleições ao ponto de dar a vitória à sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Seria fazer pouco caso do eleitorado acreditar que se votará em alguém só porque o presidente pediu”, afirma Montenegro.

O cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), afirma que Lula conseguirá tornar a eleição um plebiscito entre o seu governo e o do antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso. Mas defende que, paradoxalmente, isso significará um freio no personalismo político: “Dilma, de um lado, é a candidata de Lula, mas representará uma linha de pensamento, um grupo, um partido – o PT – que estará em disputa com o candidato do PSDB, ou seja, contra uma outra proposta política. Estarão em jogo estes dois grupos, dois partidos, duas visões do país sem personalismos.”

O fim do personalismo também é festejado por outro cientista político, Alberto Carlos de Almeida, diretor do Instituto Análise de pesquisas. Mas o autor do livro “A cabeça do eleitor” apresenta uma visão crítica da presença de Lula no cenário político: “o mais importante não é o fato de ele deixar de ser candidato. Mas, sim, por deixar de ser presidente da República. Oito anos de poder para um político carismático como ele é avassalador para qualquer país.” (iG Brasília)

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