Depois do solavanco provocado pela crise mundial, que resultou na queda dos preços do minério de ferro em 2009, as mineradoras voltarão a se beneficiar de um cenário favorável em 2010. A retomada da demanda pelo insumo e a ausência de novos projetos de expansão devem gerar um déficit de 15 milhões a 50 milhões de toneladas da commodity no ano que vem, segundo estimativas de analistas.
A situação vai garantir uma expressiva recuperação nos preços da matéria-prima. As negociações entre mineradoras e siderúrgicas devem ser concluídas até o final de março e, por enquanto, as estimativas apontam para um reajuste de cerca de 20%. A relação apertada entre oferta e demanda ocorrerá já no primeiro trimestre, segundo o analista do Goldman Sachs, Marcelo Aguiar.
O banco trabalha com um déficit de 50 milhões de toneladas de minério de ferro para o ano, causado pelo adiamento de projetos, pelo contínuo aumento da demanda chinesa e pela recuperação dos outros mercados como a Europa. Durante a crise, muitas empresas desaceleraram seus planos de investimento na área, o que explica a ausência de novas ofertas de minério.
Um dos principais projetos previstos é a expansão da Vale em Carajás (PA), com aumento de 90 milhões de toneladas por ano na Serra Sul, que será concluída no segundo semestre de 2013, caso obtiver licenças ambientais e aprovação do conselho de administração. Outra expansão na região ficará pronta no primeiro semestre de 2012 e deve adicionar capacidade de 30 milhões de toneladas.
Apenas um projeto menor em Carajás, de 10 milhões de toneladas, começará a operar no primeiro semestre de 2010. Segundo o banco Merrill Lynch, em alguns casos, o problema é a obtenção de licenças ambientais, como ocorre com os projetos Carajás Serra Sul, da Vale, e o Minas Rio, da Anglo American, no Brasil. Juntos, eles adicionariam 200 milhões de toneladas anuais de minério ao mercado.
“A oferta destes projetos deve vir, mas ainda existe uma janela de três anos em que o mercado terá uma oferta apertada”, informou o relatório. De acordo com relatório divulgado por analistas do banco, o mercado de minério terá um déficit de 24 milhões de toneladas em 2010 e de 55 milhões de toneladas em 2011, o que deve garantir pelo menos dois anos de aumentos de preço.
A Vale, a BHP e a Rio Tinto já estão operando a plena capacidade e não há previsão de entrada de novos projetos nos próximos dois anos, segundo o banco. As estimativas da corretora Geração Futuro apontam que a demanda mundial deve chegar a 965 milhões de toneladas, enquanto a produção será de 950 milhões de toneladas, gerando déficit de 15 milhões de toneladas.
Em 2009, ano em que o preço do minério caiu 30%, houve um excedente de 2 milhões de toneladas para uma oferta de 872 milhões de toneladas. “O saldo tem sido mínimo desde 2002 e deve ser ainda menor até 2013, quando entram novos projetos “, disse o analista Rafael Weber. A perspectiva está em linha com a projeção do Banif Securities, que espera déficit entre 10 a 15 milhões de toneladas, segundo o analista Gilberto Cardoso.
Em sua visão, a relação demanda e oferta ficará mais apertada no segundo semestre. Segundo o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves, o déficit previsto para 2010 está relacionado com a alta concentração de mercado no setor. Juntas, as três maiores mineradoras - Vale, BHP e Rio Tinto - representam 70% do comércio marítimo de minério.
“O benefício de atuar em um setor consolidado é conseguir programar a oferta de produtos para momentos em que o preço está mais atrativo”, disse. Na visão do analista da Geração Futuro, Rafael Weber, o minério é a única commodity que deve voltar em 2011 aos níveis de 2008, ao contrário dos metais, do petróleo e do aço.
“Isso se explica pelo oligopólio existente no setor e pela atual escassez na oferta”, afirmou. Em teleconferência com analistas realizada em outubro, o diretor de relações com investidores da mineradora, Fábio Barbosa, disse que a empresa tem planos de expansão, mas que não é possível acelerá-los.
“O prazo de entrega depende de limitações físicas”, afirmou na ocasião. Atualmente, a Vale tem capacidade de produzir 300 milhões a 310 milhões de toneladas ao ano. Segundo o executivo, o desafio da Vale na China é ter capacidade para atender a demanda porque as demais regiões do mundo estão se recuperando.
Nos dez primeiros meses deste ano, a produção de aço da China cresceu 10,5% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a produção mundial caiu 13,5%, sinal de que o desempenho do setor continua firme no país. Os outros mercados, como União Europeia e Estados Unidos, ainda apresentam queda acumulada de 36,7% e 43,7%, segundo dados da Worldsteel Association (Associação Mundial do Aço).
Mesmo assim, estas regiões desenvolvidas começaram a apresentar melhora gradual mês a mês. Em outubro, a produção de aço na União Europeia cresceu 6% ante setembro, enquanto nos Estados Unidos o avanço foi de 2,5%. (Agência Estado)
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
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