quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A crônica se despede do Machadão

Com uma boa parte da estrutura do Estádio João Machado no chão, resta a quem passou boa parte da vida profissional dentro daquela praça de esportes falar sobre as lembranças vividas ao longo desses 39 anos de história. Dos cronistas entrevistados, apenas Everaldo Lopes considera que o velho estádio deveria ter sido preservado, opinião dissonante da apresentada por Santos Neto e Hélio Câmara. Este último foi o locutor esportivo que marcou a geração que gostava de comparecer ao Machadão.

Militante antigo na cena esportiva potiguar, tanto Everaldo Lopes quanto Hélio Câmara acompanharam o processo de construção do estádio de Lagoa Nova. Everaldo inclusive foi integrante da comissão de construção do mesmo, que na época parecia imponente para população natalense. No início da década de 70, os questionamentos quanto a necessidade de aplicação de tanto dinheiro na construção de uma praça esportiva tão grande, eram idênticos aos que são vistos hoje em relação a Arena das Dunas.

"Naquela época eu era conselheiro da antiga Fenat (Fundação de Esportes de Natal), cargo para o qual éramos eleitos e tínhamos mandato de dois anos. A inauguração do estádio, batizado na época de Humberto de Alencar Castelo Branco (Castelão) em homenagem a um marechal cearense, continua sendo minha lembrança mais marcante", disse Everaldo, ressaltando o motivo dessa homenagem a um militar do Ceará. "Isso ocorreu devido a uma picuinha política, uma vez que o pensamento era o de homenagear o jornalista Agnelo Alves, mas um grupo de opositores a ele se uniu e se aproveitando da força do governo militar, venceu essa queda de braço com Agnelo, que era contrário a estada dos militares no poder", recorda.

Hélio Câmara se mostra menos apegado aos fatos históricos que marcaram a construção do estádio, suas lembranças são genuinamente esportivas. Como principal locutor da antiga Rádio Cabugi (hoje Globo Natal) ele transmitiu a partida entre Vasco x Seleção Brasileira de novos, que sucedeu o clássico ABC x América, onde William marcou o primeiro gol no estádio.

"Vivi muitos momentos marcantes, como esse jogo de estreia, tive oportunidade também de trabalhar na Copa Independência, quando tivemos Portugal aqui em Natal com todas as suas estrelas da época", salienta Hélio. "Mas o momento marcante foi mesmo o acesso do América em 1996, quando o clube ficou com a segunda colocação da série B e num jogo com caráter decisivo contra o União São João, após Carlos Mota marcar o gol da vitória no minuto final, narrei o lance de joelhos e quando olhei para trás toda diretoria do clube também estava de joelhos dentro da cabine da rádio e comemorando", salienta.

O estádio também teve momentos que entraram para história como uma confusão generalizada num clássico entre ABC x América que ganhou projeção nacional pelo fato dos 22 jogadores terem sido expulsos pelo árbitro paulista José Favile Neto.

Mas também existiram os momentos que marcaram por serem hilariantes. O âncora do programa Globo Esportivo, Santos Neto, que começou a trabalhar no Machadão em 1978 como repórter de campo, ainda sorrir quando se lembra do fato de ter visto o companheiro de emissora Levi Araújo, na promoção de uma partida, entrar em campo montado numa burra junto com o atacante Jacozinho do ABC.

"Quem viu aquela cena nunca vai esquecer, esse foi o momento mais curioso que presenciei no estádio, num tempo em que se fazia praticamente de tudo para se promover uma partida", disse Santos Neto.

Quanto ao fato do estádio precisar ser demolido, o radialista acredita que não existia outra alternativa ao governo, uma vez que a Fifa condicionou a realização da Copa do Mundo em Natal à construção de uma nova e moderna praça esportiva. "Que me perdoem os saudosistas, mas não havia outra solução. Entre perder a Copa e permanecer com o Machadão, será bem melhor termos a oportunidade de abrigar um grande espetáculo e ainda ficarmos com um estádio de primeiro mundo", ressaltou Santos Neto. (Fonte: Tribuna do Norte).

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