quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Negócio turbina fertilizante nacional

Vale entra com força no mercado, abrindo caminho em busca da autossuficiência na produção de matéria-prima

Com a recente aquisição de ações da Fosfertil, produtora de matérias-primas para fertilizantes, a Vale avançou em um ponto estratégico para a agricultura brasileira. A movimentação no segmento de adubos pode ser traduzida como o primeiro passo mais concreto rumo ao desafio do país em reduzir a dependência externa.

Liderada pelos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, a missão segue determinações do presidente Lula. O que também envolveria o preparo de um pacote de incentivo fiscal à produção nacional. Somente em 2008, o país importou uma média de 73% do trio NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), elementos que são as matérias-primas dos fertilizantes.

As mudanças, no entanto, não devem significar alteração de preço para o produtor. Segundo Torvaldo Marzolla, presidente do Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul, como se trata de uma commodity, a cotação é determinada no mercado internacional.

– Mesmo sendo o quarto maior consumidor de fertilizantes, importamos apenas 6,7% do que é produzido no mundo. Estamos atrás de Estados Unidos, Índia e China – diz Marzolla.

Se o preço não deve sofrer alterações com a mudança no mercado, o que muda e pode tranquilizar o produtor é a garantia de oferta. O dirigente diz que, com as compras de reservas nacionais e internacionais, a Vale garante o fornecimento desses insumos para a indústria nacional.

No caso do Rio Grande do Sul, essa garantia é mais importante. De acordo com o diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Eduardo Daher, o Estado importa 100% dos nutrientes devido à distância das minas e ao custo do frete.

Para Rafael de Lima Filho, consultor da Scot Consultoria, os produtores brasileiros só vão perceber alguma diminuição de preços quando a produção nacional realmente aumentar e os problemas logísticos forem resolvidos. O consultor destaca que o país tem chance de se tornar autossuficiente na produção de potássio se reservas do mineral na Região Norte forem exploradas, mas, como elas se localizam em área de preservação ambiental, isso deve demorar. Lima Filho acredita que o ponto negativo da aquisição é a concentração de mercado, pois a Vale já é a única responsável pela exploração de potássio no Brasil.

Com o negócio de US$ 3,8 bilhões, a Vale garantiu 42,3% das ações da Fosfertil e também o controle de duas minas de rocha fosfática e duas plantas de processamento de fosfatados pertencentes à Bunge Participações e Investimentos. Logo depois, a mineradora brasileira fechou a compra de mais 15,46% das ações da Fosfertil com a Yara Brasil Fertilizantes, investindo US$ 785 milhões. (Zero Hora)

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