sexta-feira, 1 de abril de 2011

4 milhões de investidores pagam a conta por briga pelo comando na Vale

Roger Agnelli: o executivo duelou por quase dois anos com o governo brasileiro para tentar permanecer no comando da Vale

"A confusão está feita.” A frase proferida dias atrás por um executivo de um banco com sede em Londres e que acompanha de perto as ações da Vale resume perfeitamente a situação a que chegou o imbróglio envolvendo a substituição de Roger Agnelli, presidente da segunda maior mineradora do mundo desde 2001.

Numa campanha que se tornou pública e especialmente ruidosa nas últimas semanas, o governo brasileiro, dono de 61% da holding controladora da Vale (por meio do BNDES e de fundos de pensão, como Previ e Funcef), costurou a troca do principal executivo da companhia.

O fim da era Agnelli foi selado numa reunião entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco, maior sócio privado da Vale, com 21,3% de participação no controle. A interferência direta do governo na gestão de qualquer companhia privada já seria, por si só, um desastre do ponto de vista da governança corporativa.

No caso da Vale, maior empresa privada brasileira, com um faturamento de 46,5 bilhões de dólares em 2010, a manobra ganha contornos alarmantes. Em jogo estão o presente e o futuro de uma companhia cujo valor de mercado cresceu espantosos 1 700% nos últimos dez anos, com ações negociadas em quatro bolsas de valores — BM&F Bovespa, Nova York, Paris e Hong Kong — e que se tornou a maior exportadora brasileira, com vendas ao exterior da ordem de 24 bilhões de dólares no ano passado.

Como deixa claro a frase que inicia esta reportagem, o risco de que uma companhia desse porte se transforme num instrumento político preocupa o mercado financeiro dentro e fora do Brasil. “O ministro da Fazenda certamente não é a pessoa adequada para tratar da substituição do presidente de uma empresa privada, mesmo que o governo seja seu maior acionista”, diz o diretor de um grande banco estrangeiro com sede em Nova York.

Acionista incomum
A confusão está feita. E, como consequência, mais de 4,2 milhões de investidores da companhia assistem à perda de valor de seus investimentos. Entre eles estão 254 000 trabalhadores que colocaram parte de seu fundo de garantia em ações da mineradora. Outros 3,5 milhões são trabalhadores (ou aposentados) que têm suas contribuições previdenciárias aplicadas indiretamente na Vale por meio dos fundos de pensão dos quais são cotistas. (EXAME.com).

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