quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Há sucessor para Agnelli?

O DONO DA CADEIRA - Roger Agnelli, CEO da Vale, comandou a década de ouro da mineradora, mas assiste a uma disputa por seu cargo

Às vésperas de completar dez anos como presidente da Vale, Roger Agnelli vê sua substituição discutida publicamente. O que há por trás disso

A cadeira é imponente, de espaldar alto, couro preto e madeira escura. Está na sala da presidência da Vale, localizada no 19º andar de um edifício comercial do centro do Rio de Janeiro, desde que o paulistano Roger Agnelli, de 51 anos, assumiu o posto, em 2001 – época em que a companhia ainda carregava o Rio Doce no nome e dava os primeiros passos para tentar se livrar da cultura estatal que a acompanhara por meio século. Dali, Agnelli comanda um dos maiores programas de aceleração do crescimento de uma empresa brasileira. A Vale viu seu valor de mercado saltar de US$ 7 bilhões em 1997, logo após a privatização, para US$ 176 bilhões no ano passado. Tornou-se a maior companhia privada e a maior exportadora brasileira. Cravou bandeira em 38 países. Obteve lucros recordes, receitas sem precedentes e distribuiu gordos dividendos aos acionistas. Neste ano, anunciou investimentos de US$ 24 bilhões. Os números de Agnelli são inquestionáveis. Ainda assim, ele não está seguro no cargo. Ganharam força, neste início de 2011, rumores sobre uma possível substituição do comandante da Vale. Há indícios de que seu mandato, que se encerra em maio, poderá não ser renovado.

Faltaria a Agnelli traquejo político, uma competência vital numa empresa que tem em seu bloco controlador importantes braços federais, como o BNDESPar e fundos de pensão de estatais. A demissão em massa no auge da crise financeira e o congelamento de investimentos considerados prioritários pelo ex-presidente Lula foram apenas os primeiros capítulos de uma novela que se arrasta há dois anos e cujo final ainda é nebuloso. De Brasília, veio o alerta: "Ele não é o dono da cadeira da Vale". Agnelli devolveu: "Tem muita gente procurando uma cadeira. E é geralmente gente do PT". A cadeira de espaldar alto e couro preto nunca foi tão cobiçada.

A discussão sobre quem vai ocupá-la tornou-se pública. Um nome desponta como favorito na bolsa de apostas: Fabio Barbosa, presidente do conselho de administração do banco Santander. Outros prováveis aspirantes ao cargo seriam Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil, hoje no comando do banco Safra, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES. “Não se encontra em discussão a substituição do diretor presidente da companhia”, informou a Vale em uma nota oficial. Mas a bolsa de valores acusou o golpe. No dia seguinte à nova onda de rumores, os papéis preferenciais da Vale chegaram a recuar 1,59% na Bovespa. No fim do pregão, terminaram em queda de 0,82%, cotados a R$ 50,90. “Toda vez que esse assunto veio à tona, houve estresse nas bolsas”, diz Antonio Emilio Bittencourt Ruiz, analista de mineração do Banco do Brasil.

Nos dez anos à frente da companhia, Agnelli imprimiu uma velocidade de crescimento sem paralelo na história de 68 anos da Vale. Comprou concorrentes no Brasil e no exterior, diversificou atividades, entrando nos promissores setores de fertilizantes e carvão, investiu bilhões em tecnologia e logística e revelou-se um grande negociador, puxando o preço do minério de ferro de um patamar de US$ 20 para US$ 140 a tonelada. Fez a festa de acionistas e diretores, frequentemente premiados com bônus milionários. Mas, depois de uma década notável à frente da mineradora, parece ter superestimado seu poder. Agnelli comprou briga com quem não podia e se enfraqueceu. A queda de braço com o governo e a quebra de alianças importantes com a oposição produziram um isolamento político que agora pode lhe custar o cargo. “Não briguei com ninguém. Talvez tenham brigado comigo”, disse Agnelli, em entrevista a Época NEGÓCIOS. “Minha obrigação é a de CEO, de tocar a empresa. Muitas vezes o interesse da companhia não coincide com o interesse dos políticos.” (Época Negócios)

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