Murilo Ferreira: mudanças internas e boa avaliação do mercado (Marcelo Sayão/EFE)
Para encontrar um equilíbrio entre seu próprio conservadorismo e as vontades do governo, Ferreira apostou numa solução prática. Já avisou que irá vender as operações de óleo e gás da empresa, assim como deverá se desfazer dos supercargueiros que foram encomendados na gestão anterior.
Oito meses se passaram desde que o mineiro Murilo Ferreira chegou à presidência da Vale. A definição de seu nome deu-se em meio a uma escancarada movimentação de figurões da República para sacramentar a demissão do antecessor, Roger Agnelli, e articular a escolha de alguém que fosse simpático aos ideais do Planalto. Em março do ano passado, ainda que o ex-presidente alimentasse esperanças de permanecer no cargo, sua demissão – que já era esperada para 2011 – foi consumada em reunião entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco (um dos principais acionistas da companhia). A notícia se espalhou pela imprensa, causando arrepios nos investidores. Afinal, era um sinal evidente de que o governo queria estender sua influência à maior empresa privada do país. O escolhido para essa nova fase de relacionamento foi justamente Ferreira.
De lá para cá, o executivo passou com louvor pelo crivo de um mercado fascinado por seu predecessor e espantado pela forma pouco transparente com que a sucessão na companhia foi conduzida. Murilo Ferreira, paulatinamente, trocou quatro dos sete membros da diretoria executiva, fechou um acordo histórico com os sindicatos e criou uma nova política interna para dissipar o clima de pressão e cobrança da gestão anterior – situação, aliás, corriqueira em conglomerados competitivos como a Vale. “Vivia-se em uma pressão como se o mundo fosse acabar amanhã. Agora, o foco é gestão. E o bom resultado, na teoria, deve vir como consequência”, afirma um alto executivo da empresa, que prefere manter o nome em sigilo.
Mudar a cultura corporativa sedimentada por Agnelli será um trabalho desafiador. Durante sua gestão, que durou de 2001 a maio de 2011, o estresse cresceu na mesma proporção que os resultados. A mineradora teve seu lucro anual multiplicado por dez e seu valor de mercado alcançou 235 bilhões de reais. Ao mesmo tempo em que os resultados avançaram de maneira surpreendente, o clima se deteriorou, a política de metas tornou-se a mais agressiva entre as concorrentes internacionais e a busca por lucros muito além das expectativas de mercado viraram mantra para todos os funcionários. Agora, o objetivo é outro. A executivos próximos, Ferreira afirmou: “A Vale não terá mais o objetivo de ser a maior, e sim a de melhor retorno”.
Mudanças já ocorrem – A estratégia de “desestressar” a Vale e deixar o ambiente corporativo menos áspero já foi colocada em prática. Desde que pisou na sala da presidência, Ferreira promoveu uma verdadeira revolução na gestão de pessoas, nas relações com o mercado, com os sindicatos e, notadamente, com o governo.
Para comandar esse processo, designou Vania Somavilla, que era responsável pela área de Meio Ambiente e que passou a acumular as funções de diretora de Recursos Humanos, de Energia e de Saúde & Segurança. Braço direito do presidente, Vania passou a pilotar uma verdadeira máquina de propaganda interna para mostrar aos funcionários que não era mais preciso trabalhar com uma ‘foice no pescoço’ – aquela que, nos tempos de Agnelli, poderia ser ativada caso as metas não fossem cumpridas e superadas. “A Vania é muito técnica e conciliadora, apesar de também saber negociar. A escolha fez todo o sentido para esse novo momento da Vale”, afirma Fernando Coura, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e presidente do sindicato patronal de mineradoras, o Sindiextra.
Além de fortalecer a comunicação institucional, Murilo Ferreira visitou todas as unidades da Vale nos últimos meses, onde fez questão de se apresentar para o maior número de empregados possível e passar boa parte do tempo circulando pelas instalações. Ele também compareceu às comemorações de final de ano dos funcionários – algo impensável na gestão anterior. “A Vale claramente se voltou para dentro. Ela enxerga que o resultado virá por meio da produtividade e que será beneficiada no longo prazo pela satisfação dos funcionários”, afirma uma fonte que presta serviços de gestão para a empresa. (Fonte: InfomineBrasil).
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
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